29 de abril de 2008

ESKORBUTO



Os dous nascemos entre o 60 e o 64
segundo os expertos, somos da geraçom
dos que cairam direitamente na heroina

No 79, quando mandaram a crise económica,
a musica Punk-Rock também colheu-nos os dous.

Do mesmo jeito, no grupo de risco

Aizu “Negu Gorriak”


Farto das rádio-fórmulas, aproveito os deslocamentos com o carro para escuitar a música da que eu gosto, e nom da merda habitual que se escuita nas rádios. Hoje decantei-me por pinchar “Antitodo” de Eskorbuto, disco que segue sendo maravilhoso, e de seguro um dos melhores discos de punk de todos os tempos.

No disco reflexa-se todo o ambiente daqueles duros anos 80, anos de crise da industria (reconversom) e da economia, alto grau de paro (no pais vasco, perto do 25% da populaçom ativa e do 50% da mocidade), delinquência, descontento social. Mas também trás a morte do ditador Franco e o período reformista do estado, produz-se umha explosom de criatividade, que vem reflectida na movida madrilenha, ou no nosso pais na movida viguesa. No caso do Pais Basco, a criatividade e a situaçom política dam lugar ao surgir do que se deu em chamar rock radical Basco.

A mocidade basca era umha mocidade mobilizada e com ganhas de fazer; nom habia vila ou cidade sem o seu Gaztetxe (casas ocupadas assemblearias, com a fim de organizar-se de maneira alheia a oficial), com centos de rádios livres, fanzines, e bandas de música que ainda que com claro predomínio de Punk Inglês, abranguem estilos como o rock duro o rockabilli, reggae, ska. Mocidade que era o motor principal com o que contava a esquerda abertzale, em anos de duro conflito, com umha organizaçom ETA, que conseguiu sentar na mesa de negociaçom ao estado (negociaçons de Argel)

Para atalhar esse espirito livre que se estava a dar o Alto Mando do “aquí todo atado y bien atado” decidiu obtar por umha das melhores formas de controlo social, as drogas.

A entrada da heroína no Pais vasco produziu-se em duas ondas, umha primeira no ano 83, ao início do movimento juvenil antes citado, e outra onda sobre o 86-87, momento de maior mobilizaçom da esquerda abertzale. As enquisas afirmavam que um porcentage muito elevado dos enganchados era simpatizante da esquerda abertzale, e a maior incidência da heroína se dava em núcleos onde a força abertzale era maior.

A heroína e mais a SIDA coma umha plaga bíblica infesta a toda a mocidade e praticamente barre toda umha geraçom. A falha de informaçom, engadida com os desejos de experimentar levam à mocidade ao consumo da heroina, a SIDA transmite-se entre os moços que compartilham as seringas, e os que nom caem vítimas do cabalo, sofrem a enfermidade. As bandas nom som alheias à sociedade, e se produzem casos tam dramáticos coma o do grupo Cicatriz único, que eu saiba, onde todos os seus componentes morrem, dos Eskorbuto a Sida e a heroina se leva a dous dos seus componentes, Jualma e Josu.

Hoje em dia a música daqueles anos segue a soar fresca e as novas geraçons a seguem a escuitar a fazer daquela mensage subversiva bandeira. Mas parece que de como se rematou com aquele processo de rebeldia nom se tirou aprendizage, o Alto Mando “aqui todo atado y bien atado” segue a realizar o controlo social, agora potência- se o consumo da Cocaína, ainda que o tempo que todo o fai esquecer, fai que se relance o consumo da heroina, amnésia?

Daquele espirito dos 80 já apenas fica nada no Pais Basco, as rádios livres foram caindo, os Gaztetxes som agora pasto da barbárie construtora, e o poder assimilou o movimento e o domesticou. No cemitério de Kabiezes ficam os restos de duas das vitimas daquela aniquilaçom. Duas tumbas esquecidas recolhem as cinzas de Jualma e Josu Eskorbuto.

4 de abril de 2008

PRIMO LEVI


“Um remata por morrer, nom polo que viveu, senom polo que escribeu”
Michel del Castillo


O 11 de Abril de 1987, como cada dia a porteira sobe a correspondência a Primo Levi, é um dia coma qualquer outro, entre as efemérides destaca a libertaçom do campo de concentraçom de Buchenwald, onde permaneceu preso o escritor, guionista e político Jorge Semprum. Levi recolhe o correio da mao da porteira, intres apos cae polo oco da escada de tres andares do edificio onde morava.Todo aponta a um suicídio.

Asim se pom fim à vida do Escritor Primo Levi. Levi, de orige judea Sefardi, ainda que de vida laica, químico de profissom, entra a formar parte dos grupos de partisanos que no estado italiano, luitam contra do fascismo de Benito Mussolini. É feito prisioneiro por grupos fascistas, namentres os seus companheiros som fuzilados no mesmo intre, ele salva-se ao declararem-se judeo, para el agarda o Lager de Auschwitz, onde se lhe tatua no seu braço o número 174517.

Primo Levi graças a sua condiçom de químico e por trabalhar numha fábrica Quimica de IG Farben, recibe um trato algo diferente do resto dos judeus o que talvez o faga sobreviver ao Lager. Junto ao que ele mesmo di que foi básico, a sua capacidade de aprendizage do idioma.

As suas vivências no Lager e o seu periplo ao longo da Europa, ficam recolhidos na sua trilogia, composta polos livros “Se questo è un uomo” (É isso um Home?), considerado umha das grandes obras do século XX, “la Tregua”(A tregua), e “I sommersi e i salvati” (Os Afogados e os sobreviventes).

Umha vez retornado na sua Turim natal, adica a sua vida ao seu trabalho coma químico e à escritura, ademais da citada trilogia, escribe sobre outras cousas de química, a academia de Londres no ano 2006 considera o livro “O sistema periódico” coma o melhor livro de ciência jamais escrito. Mesmo fai a traducçom ao italiano da obra do Austriaco Franz Kafka.

Sempre me chamaou a atençom como umha pessoa que foi capaz de resitir ao campo de concentraçom de Auschwitz, supostamente acaba com a sua vida. Dim que as enfermedades mentais estan dacordo com o entorno no que vivemos, asim nesta sociedade de consumo e de velocidade as enfermedades que estam colhendo o nivel de praga, som as depressons e os trastornos de ansiedade. Namentres que em épocas pasadas as enfermidades mentais mais comuns eram as demências. Umha vez escuitara que as pessoas que se atoapavam nos campos de concentraçom nazis, nom presentavam depressons nem trastornos de ansiedade, sendo as demências as enfermidades habituais nos reios. É dizer quando o home tem que luitar pola sua subsistência, os que nom se adaptam acavam na toleria, mentres na época moderna (falo, é claro, no mundo occidental) onde as necesidades básicas estam garantidas, as enfermidades mentais som as enfermidades da alma.

Poderia ter passado isto no caso de Levi? Um dia lendo por ahí atopeime com as vivências doutro sobrevivente ao terror do nacional-socialismo, era Jorge Semprum, que obtou polo que ele chamou “amnesia voluntária” com respeito a escreber sobre o que vivera no Lager, entre outras frases dele que atopei estam:

“Hai que eleger , já seja viver, já seja escreber”
“Alguns temas nom podem ser abordados impunemente”

Logo escreber e lembrar a tragedia vivida poderia ser a causa das costantes depressons do escritor?. Surpresivamente o caso de Primo Levi nom é o único, já que os tambem escritores Paul Celan, e Sarah Kofman, vítimas e relatores do genocídio dos judeus, acabarom os seus dias recurrindo ao suicidio.É casualiadade que pouco denantes da sua morte Levi pechara a trilogia?

Talvez Primo Levi abandou o Lager e se mantivo durante 30 anos para dar voz a todos os que foram vitimas do horror, mas o seu espiritu ficou preso e morreu longe da sua Turim, num povo Polaco chamado Auschwitz.